E Hollywood disse : – Haja filme!
E houve.
A paráfrase é proposital, pois é bem notório para todos que mesmo o cinema não sendo uma invenção norte-americana, a hegemonia cinematográfica pertence à Hollywood.
E falando no jeito americano de fazer filmes, vamos mudar o cardápio de hoje e acrescentar um tempero novo à sua checklist, um tempero indiano. Ao ler esta coluna, deixe de lado um pouco a sua visão ocidental e esteja preparado ao assistir uma outra versão dos fatos, porque o mundo está cheio deles.
Como resistir ao sistema
Sim. A dica de hoje é um longa-metragem de 2 horas e 40 minutos, produzido na Índia, dirigido pelo indiano Rajkumar Hirani e com atores também indianos no elenco, como, Aamir Khan, R. Madhavan e Sharman Joshi. Trata-se de os “Três idiotas”, lançado em 2009, e ganhador do prêmio Filmfare Awards na categoria de melhor filme.
“Três idiotas” foi baseado no livro Five Point Someone, do autor Chetan Bhagat, e é uma comédia dramática bem humorada e bem musical sobre a vida dentro de uma universidade.
Entretanto, o filme não fala sobre qualquer universidade, mas de um sistema de conhecimento falido, onde o professor é o único detentor do conhecimento, é o sujeito de autoridade máxima, e o aluno é um sujeito passivo que aprende a decorar fórmulas, conceitos etc, sem refletir sobre eles ou criar coisas a partir deles.
Nele, o modelo tradicional de ensino é questionado, a relação entre professor-aluno é questionada. Aquele que é visto como “rebelde”, o sistema quer moldá-lo ou cortá-lo fora, assim como a Rainha de Copas fazia no País das Maravilhas, com quem era uma “ameaça” ao sistema.
O filme é uma construção belíssima, que mistura cores, paisagens, pessoas, músicas, sons, dialetos, pontos de vistas diferentes etc. Apesar do nome, “Três idiotas”, foi uma forma do diretor satirizar a condição dos três estudantes indianos que entraram para uma universidade de engenharia na Índia.
Este grupo de amigos é bem diversificado, um que é inteligente e ama criar coisas, outro que não gosta de engenharia e outro que é de uma família muito pobre. A vida de todos se mistura, reviravoltas acontecem a todo o momento, e a catarse é provocada no espectador.
Enfim, fica a indicação para quem também não tem medo de questionar o sistema educacional ou qualquer outra área. O filme ainda aborda temas como pressão familiar e financeira, escolha profissional por parte dos pais, metodologias de ensino tradicionais e inflexíveis, não orientadas à mudanças, educação rígida, estímulo à cultura da competição.
Esses são alguns fatores que causam o alto índice de suicídio entre estudantes universitários indianos, outro tema explorado pelo diretor, e ainda pouco explorado pelo cinema hollywoodiano. Divirta-se mas, reflita. Como resistir ao sistema?
Por Michele Souza
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