A fragmentação do ser frente à fragmentação do tempo
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A fragmentação do ser frente à fragmentação do tempo

Colunas, Notícia

“Não desperdice o meu tempo”. (Henry Hamilton)

Já dizia a máxima capitalista que “time is money” e no filme “O preço do amanhã” (2011) não é diferente. Dirigido por Andrew Niccol, o mesmo de “O show de Truman” (1998), o longa-metragem traz uma crítica social bem gritante sobre o valor da vida humana. O filme traz no elenco Justin Timberlake como Will Salas, Johnny Galecki como Borel, Amanda Seyfried como Sylvia Weis, Vincent Kartheiser como Philippe Weis, Cillian Murphy como Raymond Leon, Matt Bomer como Henry Hamilton, entre outros.

A narrativa gira em torno do protagonista Will Salas, um cidadão comum que vive no gueto com sua mãe Rachel Salas (Olivia Wilde) e tem como amigo, Borel. O filme começa bem no dia do aniversário da mãe de Will. Eles combinam de comemorar à noite depois do trabalho. Mas não estamos falando de qualquer data de aniversário. Estamos falando sobre indivíduos geneticamente modificados para viver 25 anos e depois sua existência toda é condicionada a contagem de tempo regressiva. Sem tempo, sem vida.

 

O tempo é a moeda de troca

Ao passo que o tempo é a moeda de troca, todos trabalham e recebem horas por isso, todos compram e pagam tudo com hora, outros mendigam horas, outros roubam horas, outros pedem horas emprestadas, outros morrem por falta de tempo, bebem pagando com o seu tempo etc. E aqui já começam os easter eggs. Há uma cena dentro da fábrica onde Will trabalha que lembra a cena clássica de Charles Chaplin em “Tempos modernos” (1936). Após essa cena de trabalho em que ele recebe horas para o seu banco de horas, o protagonista vai ao encontro de sua mãe para a comemoração de aniversário, mas como a tarifa de ônibus havia subido, ela não tem horas suficientes para pagar o ônibus e acaba morrendo.

Nosso herói agora quer vingança, ainda mais que ele descobre toda história por trás da “teoria do tempo”, por meio de Henry Hamilton, de que a desigualdade de tempo só ocorre porque para uns viverem mais, outros tem de morrer. E assim é feito o controle social, nem mais, nem menos, só o número de pessoas suficiente para o sistema controlar e manter a “boa ordem cronológica” das coisas. Henry ao que parece é rico, têm 100 anos (lembrando que a riqueza aqui é medida em horas, meses, anos), mas é infeliz com tanto tempo sobrando. Por isso, ele transfere seu tempo para Will, quando esse o salva de ladrões de tempo, e depois se suicida.

 

A eterna luta de classes

Outro easter egg gritante no filme é a luta de classes de Karl Marx. O filme é dividido em dois lugares, o gueto, onde vivem os pobres e menos favorecidos e há escassez de tempo e muito trabalho duro para conseguí-lo, e New Greenwith, onde vivem os ricos, que não se preocupam com o passar do tempo, não correm, não olham para o seu relógio, apostam o tempo nos cassinos, esbanjam o tempo com luxos etc. Se “a história da sociedade até aos nossos dias é a história da luta de classes”, a luta de classes permanece e dá o tom do filme numa atmosfera que parece até meio futurista.

A crítica da desigualdade social é bem colocada no filme com os antagonismos apresentados, do lado rico é fácil conhecer quem não é habituado com o dinheiro (o tempo), pois anda sempre apressado, não é acostumado com os valores exorbitantes das coisas luxuosas, como é o caso de Will. Ele aluga um super carro caríssimo para ir a uma festa na mansão dos Weis depois que ele foge do gueto, e acha o valor exorbitante, mesmo ele tendo muito tempo agora que ele também é “rico”.

 

A fragmentação do ser frente à fragmentação do tempo

A ironia do filme pode ser notada na filha do milionário Weis, ela é rica, mas infeliz, e gostaria de ser comum, conhecer outros lugares. E assim acontece, quando Will tem suas horas confiscadas pelo guardião do tempo Raymond, para não ser preso e conseguir escapar, ele faz Sylvia Weis de refém. Entretanto, ao chegarem no gueto e depois de refletir muito sobre o estilo de vida condicionado e controlado que eles vivem, de ambos os lados, tanto em Greenwith, quanto no gueto, a garota decide se aliar a Sallas.

 

“Por que temos fuso horário? Por que os impostos e preços sobrem dia após dia no gueto? O custo de vida sobre para que as pessoas continuem morrendo. Assim, alguns têm milhões de anos e a maioria tem apenas um dia. Mas a verdade é que existe mais do que o suficiente. Ninguém tem de morrer antes do tempo” – diz Henry.

 

Agora, unidos, Will e Sylvia começam a roubar as indústrias Weis, roubar o tempo e distribuir para o povo na tentativa de quebrar o sistema. Will agora é Robin Hood, que rouba dos ricos para distribuir aos pobres. O casal de justiceiros quer mais e planeja roubar o cofre principal da família Weis. Após abrir o cofre e pegar 1 milhão de horas, eles distribuem no gueto. O caos é instaurado, as fábricas param de funcionar, os funcionários agora tem tempo e se recusam a ir trabalhar. Agora há vida. Se antes no gueto não existia tempo nem para o amor, agora com tempo para viver, as pessoas voltam a ser humanas e menos máquinas. E o casal segue para outros distritos, sempre com a idéia fixa de acabar com o sistema.

 

E você, também iria contra o sistema para salvar alguém?

 

Por Michele Souza

 

 


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