Controverso, romantizado e equivocadamente tendencioso, uma leitura inicial bastante conturbada para um filme de serial killer, a começar pela tradução do título, ao que parece bem acertada por aqui, já que originalmente o correto seria grafar “Extremamente Cruel, Malvado e Perverso” mas não se espante se ao assistir o filme em algum momento lhe suscitar o sentimento da presunção da inocência do nosso encantador assassino em questão. A aposta arriscada do diretor é justamente titubear em nos levar para meandros bem incômodos da personalidade do matador em série ao longo da trama.
O diretor Joe Berlinger, arrisca uma abordagem um tanto quanto confusa ao decidir trazer a história do serial killer mais famosos dos Estados Unidos, na década de 70, Theodore Robert Cowell, mais conhecido como Ted Bundy, que matou mais de 30 mulheres, entre sequestros, estupros, roubos e homicídios, Ted se valia de seu charme, carisma e vocabulário polido para atrair suas vítimas, estudante de direito e inserido no meio acadêmico, era para todos os efeitos acima de qualquer suspeita, afinal como relataram dezenas de pessoas, inclusive mulheres que acompanhavam o julgamento – ele não parece uma pessoa ruim, e não pode ter cometido esses crimes.
Diferente de muitos filmes do gênero, aqui a direção resolveu retratar a vida de Ted através de uma cinebiografia, contando através de duas das poucas mulheres que cruzaram seu caminho e sobreviveram para contar a história, Liz Kendall (Lily Collins) e Carole Ann Boone (Kaya Scodelario) com quem Ted se envolveu nos últimos anos de sua vida. A narrativa prioriza e enfatiza atributos e traços mais nobres da psicopatia do assassino, levando o espectador a uma viagem na mente perturbada do personagem, a maneira dissimulada e irônica com que Ted Bundy tratava as inúmeras situações que lhe eram imputados os crimes, isso cria uma expectativa de complacência e que por vezes pode despertar simpatia e a duvida com relação às ações sádicas e perversas do homicida.
Mas como um assassino tão cruel e contumaz conseguiu fazer tantas vítimas por tanto tempo? Talvez esse seja o ponto chave que o diretor propõe durante o filme, ele vai explorar o lado social e interativo que Ted estabeleceu em seus relacionamentos, não evidenciando um lado bom da mente doentia, mas elucidando a contrapartida necessária para um álibi, uma vez que o maníaco se escondia atrás de uma vida aparentemente normal, marido, pai, universitário, como mencionado anteriormente, alguém dificilmente associado a crimes tão hediondos e nefastos. Dessa forma mesmo sendo suspeito e preso por diversas vezes, as autoridades e a opinião pública encontravam dificuldades para ligar um homem com tantos atributos a uma figura nefasta e diabólica.
Não espere banhos de sangue, gritos e sustos aterradores, ou cenas com corpos dilacerados e esquartejados, a intenção aqui é explorar a mente doentia, e a capacidade de ludibriar situações, em detrimento aos fatos, o questionável trunfo da direção é sem dúvida a maneira controversa de abordar um tema sensível e perturbador. Até mesmo quando levado a júri e interpelado sob as lentes da imprensa que cobria o julgamento, Ted ainda parecia estar sob o controle, assumindo sua autodefesa, enquanto ganhava fama nacional e colecionava admiradores por sua postura quase inabalável diante de tantos fatos concisos.
O filme soube guardar para o final, tal qual uma trama novelística, o ápice de todo o mistério do que mais parecia um romance macabro. Em poucas cenas e relances que ilustravam o modus operandi do assassino, o longa se livra do peso da suposição de romantizar o protagonista, contudo, as muitas cenas em que Ted lograva êxito em suas ações e fugas, levavam quem acompanhava a trama a crer numa possível inocência do galante maléfico, o que provavelmente provocou a ira e o descontentamento de feministas e parentes de suas vitimas mundo afora.
No fim a trama se mostra complexa, intrigante e na medida inquietante, destaque para as atuações de John Malkovich como o juiz da condenação Edward Cowart. Jim Parsons (Big Bang Theory) na pele do promotor Larry Simpson, e do sumido Haley Joel Osment (Sexto Sentido / Inteligência Artificial) como Jerry.
Por Ricardo França
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