Dois Papas – O Lado Mais Humano de Homens Santos
Sem dúvida estamos diante uma obra cinematográfica grandiosa, com um elenco primoroso como Anthony Hopniks, Jonathan Pryce e Juan Minujin, e a direção atenta de Fernando Meireles (O Jardineiro Fiel / Ensaio Sobre a Cegueira / Cidade de Deus) e também pela trilha sonora eclética, sobretudo, pela maneira de contar duas histórias através de diálogos. A trama narrativa, construída no presente de uma conversa a dois, é pontuada com três flashbacks que nos permitem compreender e aprofundar a história do atual Sumo Pontífice. Tudo se acompanha com belos cenários, sobretudo no Vaticano, com destaque para a admirável Capela Sistina que o filme nos faz visitar no silêncio da ausência de turistas.
A humanidade dos “dois Papas” transparece constantemente. E aí reside, talvez, a maior riqueza do filme. Os dois personagens tanto se inquietam com os problemas do mundo e da Igreja dos tempos atuais, como expressam as emoções mais festivas que a banalidade de um jogo de futebol pode suscitar entre nós. Cada um deles tem uma personalidade própria, uma relação particular com Deus, um caminho pessoal, uma vocação única.
O filme “peca” em deixar transparecer um dualismo, um tanto quanto maniqueísta, entre os dois personagens e o que eles supostamente representam. Frequentemente, ficamos com a sensação de estar perante duas visões completamente antagônicas de Igreja. Quase parece que a ortodoxia cristã se opõe à reforma da Igreja, tal é o contraste entre o conservadorismo do imaginário Bento XVI e a Igreja que agora respira com o idealizado progressismo de Francisco. Ao longo do filme, de várias maneiras, mais ou menos explícitas, sugere-se esta dicotomia entre os dois papas. Bento XVI, por exemplo, parece não conhecer tão bem os ABBA ou o Yellow submarine dos Beatles quanto Bergoglio; e este, mais aberto ao mundo do que outro, aspira a uma reforma da Igreja, em vez de defender tradições do passado.
Segredos ao pé do ouvido, liberal e conservador discutem ideias e confissões que acirram o debate
Para além da grande jornada de fé e abnegação, o filme de Meirelles se sustenta pois é o retrato dos dois papas na sua humanidade e na sua capacidade de reconciliação. E é a partir dessa humanidade que o enredo expõe a complexa realidade da vida de oração, da confissão sacramental, do discernimento vocacional. Por outras palavras, ao mostrar o peso da sua consciência, deparamo- nos com pessoas que se arrependeram dos erros que todos cometemos nesta vida. E, desta forma, em vez de nos apresentarem certos príncipes da Igreja, imaculados em suas vidas, o filme coloca-nos diante de homens de carne e osso.
É belo ver Bento XVI ao piano, executando apaixonadamente uma peça musical, reconhecendo que, nesse âmbito, ele não é infalível. Estamos, portanto, diante de dois personagens que, apesar de tudo, se escutam mutuamente, e se abrem ao perdão.
Creio que este caminho de diálogo e de reconciliação é cada vez mais urgente nas nossas sociedades atuais.
Por Ricardo França
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