Ventos De Água, Uma Produção Argentina Sobre Imigração
A série da Netflix “Ventos de Água” do premiadíssimo diretor argentino Juan José Campanella, é uma raridade escondida na enorme grade da programação de séries coreanas, colombianas e espanholas que podemos encontrar no streaming. O diretor nos leva a conhecer as raízes da imigração europeia nos países de América do Sul, Argentina, Brasil e Uruguai que receberam uma grande concentração de imigrantes no período entre guerras. A série conta a história de Andrés Olaya, interpretada por Héctor Alterio, na vida adulta e por seu filho, Ernesto Alterio, um jovem espanhol de Astúrias que foge da efervescência política dos anos prévios à Guerra civil espanhola, embarca em um navio onde encontrará retirantes do Velho Mundo à procura de novos destinos, deixando famílias e histórias, levando saudades no coração.
O diretor argentino realizou filmes emocionantes como “O Filho da Noiva” (2001), um filme comovedor sobre a eterna crise econômica dos portenhos. Interpretada por Héctor Alterio e Norma Aleandro, dupla premiada com o primeiro Oscar para América Latina com o filme “A História Oficial” (1985) de Luis Puenzo, que também pode ser assistido pela Netflix. Campanella ganhou o Oscar com o filme “O Silêncio de seus olhos” (2010), um drama policial interpretado por Ricardo Darín, Soledad Villamil e o divertidíssimo Guillermo Francella. O diretor trabalha desde 2001 na série de TV americana Law & Order: Special Victims Unit e podemos ver a influência desta série na vencedora do Oscar, incluindo crimes sexuais com a também eterna crise política Argentina.
“Ventos de Água” é uma série que fala da memória e das experiências vivenciadas pelos imigrantes fora de seu país. Os novos amigos, novos amores e um mundo desconhecido com problemas tão graves como os deixados no Mundo velho. Um novo futuro, uma nova família, novos problemas a enfrentar. Esta série narra a história da Argentina no século XX, a presença de Evita Perón, a ditadura militar, que durou de 1976 até 1982, a mais violenta do continente que deixou um saldo de 25 mil desaparecidos políticos, um país que chegou a ser a maior e melhor econômica da América do Sul, com um salário mínimo que chegava a 400 dólares, enquanto no Brasil não chegava nem de 100 dólares. Nesta série, que conta paralelamente a história do filho, Ernesto Olaya, que tem todas suas economias confiscadas no “Corralito” de Domingo Cavallo em 2001, uma espécie de confisco da poupança e das contas correntes realizado no Brasil no Governo de Collor e da Ministra Zélia Cardoso de Mello em 1990. Sem expectativas, Ernesto resolve fazer o caminho de retorno a Europa, transformando-se em mais um “sudaca”, numa Espanha com ascensão econômica, mas preconceituosa e xenófoba.
Uma série que nos leva a conhecer a difícil experiência do imigrante, do deslocado a novas terras, experiências e dificuldades. As crises políticas e econômicas não são apenas no Brasil, mas que nosso Continente vive de Utopias, e o escritor uruguaio Eduardo Galeano, descreve para que servem as utopias, diz parafraseando ao diretor argentino Fernando Birri: “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.”
Por Francisco Lillo
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