A Missy Errada – O Começo é Ruim… Mas Depois Piora
Minha maior bronca com filmes do Adam Sandler é que depois de abandonar o cinema e migrar para o streaming ele parece ainda mais preguiçoso e descompromissado com suas produções, e isso é visível em mais essa “pérola” da Happy Madison, produtora fundada por Sandler em 1999, esse filme segue a mesma receita fácil, vergonhosa e preguiçosa de outras anteriores, uma exagero tremendo de humor físico e de performance vexatória, nenhum enredo e estilo visual nulo.
A Missy Errada começa com um horrível encontro às cegas entre Melissa (Lauren Lapkus) e Tim (David Spade). Ele é um cara relativamente simples, assiste The Affair, lê James Patterson e ouve Phil Collins. Missy, por outro lado, é terrivelmente assustadora. Ela fala sobre sexo abertamente, mergulha o cabelo no vinho antes de chupá-lo e carrega uma faca enorme que chama de Sheila. Ela é a anti-Tim, e ele já nos primeiros minutos do filme quer fugir da cena passando pela janela do banheiro, esperando nunca mais vê-la. Pouco tempo depois, Tim está no aeroporto, onde tem um encontro fofo envolvendo uma confusão de bagagem com outra Melissa (Molly Sims). Os dois parecem ter tudo em comum e acabam no armário de um zelador antes que seu voo decole. Tim fica com a coragem de convidar essa Melissa para uma viagem ao Havaí em um retiro corporativo para impressionar o novo chefe. Adivinha qual Melissa ele convida por acidente?
O que deveria ser uma cena engraçada, é um verdadeiro imbróglio, repleto de situações vergonhosas sem nenhum humor
E essa é a premissa do filme, que não é tão infundada, mas a facilitação de roteiro, o baixo desempenho das atuações enfraquecem a trama, e um elenco de apoio que parece estar no automático e sem nenhuma vontade, e não é por falta de talento e experiência talvez seja por preguiça mesmo, pois é possível ver que Spade não gasta nem metade de seu talento para convencer no papel, por outro lado Lapkus mergulha de cabeça e se envolve tão profundamente que a sensação ultrapassa a noção de cômica e recai na insanidade, uma falta de equilíbrio gritante que causa tremendo desconforto e vergonha alheia.
O filme é mais um daqueles caricatos “Vacation Comedy” comédia de férias, com todo o arranjo temático previsível, pessoas ricas e aparentemente normais em um cenário paradisíaco e ensolarado, e no meio de tudo isso algumas personas desajeitadas que quebram o ritmo e trazem algum tipo de distração e maluquices no ambiente. Mais uma quebra de rotina totalmente desproporcional, parece que a personagem de Lauren Lapkus está atuando em outro filme, alguém deve ter esquecido de dizer pra ela que não precisava exagerar tanto, e talvez por isso ela mantenha o interesse dos espectadores em todo o filme, só que quanto mais o filme avança mais translocada a atuação fica, a ponto de em certos momentos ela assumir um aspecto de vilania e desconforto, algo incomum e desconexo para um filme de comédia.
Como uma cena em que uma pessoa bêbada pula de um penhasco para que outros assistam pode ser engraçada?
A Missy Errada parece ter usado um roteiro retirado de um rascunho de uma redação de comédia de calouros em cinema de humor. Desequilibrado e com um ritmo inconsistente, que poderia ter funcionado com uma pequena correção nos exageros de Lapkus e com uma dose de ânimo para Spade, e é claro um elenco de apoio competente, pois nem a presença do veterano Rob Schneider (Animal / Gigolô Por Acidente) salva a cena, aqui ele vive um capitão de um barco turístico que teve um acidente com um tubarão que lhe comeu três dedos da mão esquerda deixando apenas o mindinho e o polegar, para que ele esteja sempre fazendo o sinal de “hang loose” acreditem essa é a piada.
Por fim a produção deixa claro que Sandler e a direção não estavam nem um pouco preocupados com o quesito originalidade e esforço textual, o filme é o pastelão recheado de sandices e piadas ruins, não ocupa um lugar na escala de avaliação técnica, é tosco e apelativo, e não serve de referência alguma para futuras produções ou qualquer tentativa de sequência. Pode até lhe arrancar algumas risadas mais vão provocar muito mais incômodo e decepção ao fim de tudo.
Por Ricardo França
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