“Ainda Estou Aqui” e os Jovens Rebeldes Goianos
O filme que esta batendo recordes de bilheteira e prêmios internacionais, “Ainda estou aqui” nos traz os abusos da ditadura militar nos anos 70. O filme de Walter Salles, com Fernanda Torres e Selton Mello retrata a rotina de uma família de classe média carioca, que mora no Leblon nos anos do Ato Institucional nº 5 de 1968, que restringia os direitos e garantias constitucionais. Rubens Paiva foi deputado federal por São Paulo, eleito em 1962 pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e após o golpe de 1964, exilou-se em Iugoslávia e França e retornou ao Brasil 8 meses depois. Em 1969, Paiva viaja ao Chile para ajudar uma exilada brasileira. Nesse momento, o Chile de Salvador Allende acolhia 10 mil brasileiros que encontraram nesse país, a proteção de suas vidas e experimentam o primeiro presidente socialista eleito democraticamente.
O Cineclube Imigração registra as relações de amizade entre o Brasil e o Chile desde suas origens. O primeiro filme realizado por Francisco Lillo, “Chilenos em Goiás” (2015), relata as experiências dos chilenos casados com brasileiras no coração do Brasil, um estado desconhecido no Chile. O segundo filme foi “The Chilean Roadmovie: Fragmentos em Goiás” (2017) do diretor chileno Nicolás Pienovi. Um falso documentário onde 3 amigos chilenos recorrem 2 mil quilômetros pelo território goiano, passando pelas cidades de Goiânia, Anápolis, Brasília, Formosa, Alto Paraíso, Teresina, Pilar e Itumbiara. Uma jornada exibida no Chile para divulgar as belezas de Goiás.
O tema dos goianos exilados no Chile nos anos 70 se fortaleceu com a presença do produtor cultural Jorge Castilho de Albuquerque Araújo, pernambucano e diretor da Produtora Equinócios, que desenvolve um filme que associa Alemanha, Goiânia e Chile, junto ao Cineclube Imigração resgatam as histórias dos jovens rebeldes de Goiás que enfrentaram a ditadura pela conquista de liberdade e direitos civis. Entrevistamos jovens do Estado de Goiás que tiveram participação política opositora ao regime militar, dirigentes estudantis e o assessor político do governador Mauro Borges. Uma memória desconhecida em Goiás, pela sua distância dos acontecimentos e desinteresse pelo passado. Descobrimos histórias impressionantes de luta e resistência. Uma memória esquecida e desconhecida dos jovens atuais. Historias que poderiam dar um filme, como é o caso da historia de Tarzan de Castro que em seu exílio esteve preso durante o golpe militar chileno em 1973, no Estádio Chile, onde foi assassinado o dramaturgo, compositor, interprete e folclorista Victor Jara, e depois Tarzan foi enviado e sobreviveu ao Estádio Nacional, lugar onde o Brasil foi Bicampeão mundial de futebol em 1962, transformado em campo de concentração, extermínio e tortura. Histórias tristes de derrotas sucessivas das aspirações juvenis de transformar uma sociedade conservadora.
Entrevistamos o Lenine Bueno, um jovem do interior com um nome emblemático da ideologia familiar e que incorporou a resistência participando do movimento estudantil, na organização do Encontro da UNE em Ibiúna ou na resistência às invasões da Universidade de Brasília (UNB) registrada no documentário “Barra 68: sem perder a ternura” (2001) de Vladimir Carvalho. Fernando Safatle é outro entrevistado e sobrevivente das ditaduras e exílio no Chile. Economista marxista e historiador, pelo menos em sua preocupação de preservar a história, narra o passado de esquerda da sua cidade Catalão, seu relacionamento com a família e sua experiência na PUC de São Paulo, onde vivenciou a “Batalha da Maria Antônia” acontecida em 1968, entre alunos da USP e PUC contra os do Mackenzie, onde morre o aluno secundarista José Carlos Guimarães.
O cinema de Walter Salles se consolida com “Ainda estou aqui” e as diversas premiações e indicações que recebeu, realizador premiado com “Central do Brasil” (1996) e “Diários de motocicleta” (2004) é importante reconhecer o papel realizado pelo Instituto Moreira Salles preservando a imagem brasileira nas belíssimas mostras fotográficas e das salas de cinema em São Paulo, Rio de Janeiro e Poços de Caldas. Também é um reconhecimento a Fernanda Torres, atriz e escritora que ganhou em Cannes a melhor interpretação feminina em 1986, aos 21 anos por “Eu sei que vou te amar” de Arnaldo Jabor. Agora com o Globo de Ouro, a melhor interpretação em ficção e indicada ao Oscar por “Ainda Estou Aqui”.
O filme de Salles é um filme de memória, de saudades, porém é um filme de perda. Um filme sobre a ausência paterna sob a custódia do Estado, que o retirou de casa e o fez desaparecer. Um filme com a sensibilidade e sutileza que pode ser compreendida em qualquer país, seja ele no oriente ou ocidente. Um filme sobre superação e a procura pelos motivos que levaram a um final tão trágico. O sucesso de “Ainda estou aqui” é um grito de superação e arte. Lembra-me o poema “No caminho com Maiakovski” de Eduardo Alves da Costa (1968).
“Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.”
Por Francisco Lillo
Veja Mais detalhes sobre o filme “Ainda Estou Aqui” e os Jovens Rebeldes Goianos:
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