“Diário de Motocicletas” de Walter Salles no Cineclube Imigração

O Cineclube Imigração realiza a sessão de Cine Debate de um dos realizadores brasileiros que se destaca internacionalmente, podendo realizar filmes de autor, ou seja, escolher temas e ter liberdade produtiva e criativa. “Diário de Motocicletas” é um exemplo disso, relatar a história de uma das grandes referências da esquerda internacional e que se associa a foto feita pelo cubano Alberto Korda, um jovem com o cabelo revoltado, uma boina e um olhar sério que reflete introspecção e até um semblante de tristeza. Esta foto do Che aparece em diversos filmes mundiais sempre associado à transformação de jovens que mudaram o mundo. Claro que não podemos esquecer-nos da frase que sempre acompanha esta foto “Hay que endurecer, sin perder la ternura jamás”. Frase que manifesta uma utopia sem perder a esperança de realizar as transformações necessárias, porém não é uma frase do Che.

Walter Salles é um diretor e produtor cinematográfico, filho do embaixador Walter Moreira Salles e da embaixatriz Elisa Margarida Gonçalves Moreira Salles e irmão do banqueiro Pedro Moreira Salles. Um realizador de uma classe acomodada, que escolhe temas sobre a dificuldade de um Brasil pobre e interiorano. Filmes como “Terra Estrangeira” (1995), “Central do Brasil” (1998), “Abril Despedaçado” (2001) e neste ano, com seu filme muito comentado e com as expectativas de prêmios e Oscar com “Ainda estou Aqui” (2024) sobre a sobrevivência de Eunice, esposa do deputado Rubens Paiva que é um dos desaparecidos políticos da ditadura militar acusado de receber cartas dos exilados brasileiros no Chile dos anos 70.

“Diário de Motocicleta” narra a historia de dois jovens universitários na área da saúde, que saem da Argentina e conhecem realidades ímpares de uma América mestiça, onde conheceram a pobreza, a solidariedade, o oportunismo, a miséria, a paixão, o sexo e tantas outras experiências que transformaram suas vidas e as utopias. O filme foi assistido por mais de doze milhões de espectadores, recebendo mais de vinte prêmios internacionais, entre eles BAFTA (Academia Britânica de Cinema) de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Trilha Sonora, Prêmio do Público no Festival de San Sebastián na Espanha de Melhor Música Original.

Exibi muitas vezes este filme para meus alunos nos colégios em que deva aula e no Cineclube Imigração. Exibimos não pelo tema ideológico, mas, pela qualidade técnica, uma produção de 7 países, entre eles Alemanha, Argentina, Brasil, Chile, Estados Unidos, França e Peru. O roteiro é de José Rivera e de Alberto Granado, um dos personagens sobreviventes desta aventura. Este filme é uma verdadeira experiência pedagógica, são sotaques como da Argentina, o Cordobés e o sulista de Bariloche. No Chile temos o sotaque do sul, tanto do mapuches, como o de Osorno, o acento de Valparaiso, da região central e o nortista de chuquicamata. No Peru encontramos o Quéchua de Cuzco e Machu Picchu, o Limenho educado da capital e o nortista amazônico. Além dos sotaques, encontramos um mexicano fazendo de argentino, Gael Garcia que faz um papel maravilhoso do Jovem Che e seu companheiro, o fantástico ator argentino, Rodrigo de la Serna. O filme apresenta paisagens e relevos maravilhosos desta América andina encantadora e mágica, A pampa, a Cordilheira, o Deserto e a floresta amazônica. O filme é uma experiência cultural, geográfica e sociológica importante para conhecer e destacar o respeito, a tolerância e o sincretismo cultural.

Debater “Diário de Motocicleta “ é uma experiência pedagógica e cultural para estimular os brasileiros a conhecerem um pouco mais dos limites fronteiriços do Brasil. Lembrando que o filme sempre é debatido em espanhol pelos convidados.

Viva o Cinema e o Cineclubismo Goiano e Brasileiro.

Assista pelo canal do Youtube da União de Cineclubes de Goiânia.

Por Francisco Lillo

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