O Poço – Ainda Há Esperança Para a Humanidade?
Nunca um filme tão contundente e necessário surgiu em um momento tão apropriado quanto esse que estamos vivendo. O Poço, filme espanhol dirigido por Galder Gaztelu-Urrutia, é uma produção original da Netflix que ganhou uma atenção incomum nos últimos dias, a premissa traz uma espécie de prisão vertical onde em cada nível existem duas pessoas que dependem de uma plataforma que traz diariamente a comida descendo de andar em andar, em consequência disso as pessoas que estão em cima se fartam com uma mesa cheia e aqueles que estão abaixo precisam se contentar com o que sobra à medida que a mesa desce. Revelando traços perversos do comportamento humano diante de uma situação de sobrevivência.
O Velho Embate Capitalismo x Socialismo
O filme é uma clara crítica social ao modo de produção capitalista, que não se prende a polarização atual, mas aponta falhas estruturais, é a crítica mais rígida, clássica, onde os de cima (ricos) desfrutam dos privilégios que sua posição e dinheiro lhe garantem, enquanto os de baixo (pobres) precisam lutar para garantir o sustento. Mas a proposta vai além, e explora a psique humana e toda a capacidade que o ser humano tem de impor a si ou a outros, condições das mais adversas numa situação de sobrevivência. E na falta de um sentimento mais nobre, ou na total ausência de empatia e solidariedade, a barbárie e a selvageria podem ditar as regras e transformar os andares inferiores em verdadeiros infernos.
Por se tratar de uma ficção científica com altas doses de tensão e cenas fortes, o longa pode assustar os menos atentos ou desavisados, mas essa alegoria pesada e com momentos que lembram o gênero gore tem um propósito. O filme traz uma metáfora pertinente ao nosso cotidiano, os elementos visuais, a paleta de cores e o cenário não mudam, o enquadramento das cenas, tudo ali está propositalmente colocado para que possamos nos sentir verdadeiramente presos, e não demora para que a compreensão da situação seja percebida como algo interpretativo, e demora menos ainda para percebermos que por mais ficcional que possa ser, a curiosidade para vermos o resultado do experimento social é que vai dominar nossa percepção. Principalmente pelo fato de que após um período de um mês os detentos trocam de níveis o que acrescenta uma dose extra de tensão a trama, e muitos que desfrutaram de um mês de fartura podem estar em uma situação de escassez no período seguinte.
Racionar os recursos seria uma solução viável, mas no Poço comer o mais rápido que puder é a lei.
Metafísica e a Redenção Humana
O filme traça um paralelo com algumas citações bíblicas e da crença religiosa de base judaico-cristã, várias referências simbólicas e narrativas são apresentadas no contexto, e servem de fio condutor para a evolução do enredo e do personagem Goreng, que começa com certa omissão e desdém pela condição em que se encontra, e que só começa a mudar a medida que percebe que a situação da qual está inserida é repleta de desafios e regras. Aos poucos Goreng percebe que algo de errado precisa ser corrigido e começa a tentar uma interação com os demais níveis, apelando para uma consciência de solidariedade para combater a situação de desigualdade, mas vai percebendo que o egoísmo e a crueldade são bem mais comuns, em casos de extrema necessidade.
Por Amor Às Causas Perdidas
Goreng tem agora a difícil tarefa de sobreviver aos meses que faltam ao passo que busca encontrar tempo para ler Dom Quixote livro que conta a história de um jovem fidalgo altruísta que decide viver aventuras fabulosas ajudando e travando batalhas para vencer desafios ao lado de seu leal, e mais realista companheiro Sancho Pança, e é por acreditar que pode interferir no modo como a organização do poço pode ser modificada para um bem maior da coletividade, é que ele se propõe a sacrificar tal qual um “Messias” que abre mão da estadia em um nível superior para descer até os níveis mais baixos defendendo e afastando aqueles que esbanjam para que os mais miseráveis possam comer.
O Poço pode ser descrito como genial para uns e assustador para outros, eu prefiro classificá-lo como um filme necessário e pertinente, é que não por acaso vivemos momentos em que a humanidade atravessa uma fase difícil, e não é incomum vermos pessoas que estão mais preocupadas em abastecer suas despensas, e zerar os estoques de álcool gel e antisséptico do que imaginar que outras pessoas também possam precisar.
É uma situação que só evidencia o quanto somos incapazes de perceber a necessidade dos demais, é um soco no estômago de quem age com indiferença para a condição dos mais necessitados. E talvez a incapacidade de despertarmos para a solidariedade espontânea seja a raiz de toda a desigualdade e sofrimento que estamos vivenciando.
Por Ricardo França
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